Kendô significa literalmente “Caminho da Espada” (“Ken” = espada; “Dô” = Caminho) e é uma arte marcial tradicional japonesa de combate com a espada, tendo raízes milenares e se difundindo notavelmente entre os samurais, os famosos guerreiros japoneses. Hoje, o Kendô é praticado conforme preconizado pela Federação Internacional de Kendô (FIK – International Kendo Federation) e a Federação Japonesa de Kendô (AJKF – All Japan Kendo Federation).
A Confederação Brasileira de Kendô (CBK) é a única representante oficial da arte no Brasil.
O Kendô visa aprimorar a pessoa, em termos físicos, mentais, morais e espirituais, de forma que se torne alguém que efetivamente beneficie a sociedade e a humanidade como um todo.
Isso está claro no Conceito do Kendô e no Propósito da Prática do Kendô, textos oficiais estabelecidos em 1975 pela Federação Japonesa de Kendô.
Kendô é um esporte? O que ele tem de diferente com relação a modalidades como futebol, vôlei, atletismo e demais modalidades mais conhecidas?
O Kendô tem diversas facetas, incluindo:
- cultural (tradicional e moderno);
- competitivo; - atlético;
- artístico;
- educacional;
- filosófico; e
- espiritual, entre outras.
Kendô é um esporte? O que ele tem de diferente com relação a modalidades como futebol, vôlei, atletismo e demais modalidades mais conhecidas?
O Kendô tem diversas facetas, incluindo:
- cultural (tradicional e moderno);
- competitivo; - atlético;
- artístico;
- educacional;
- filosófico; e
- espiritual, entre outras.
Nesse contexto, principalmente os lados competitivo, atlético e educacional podem servir como uma interseção entre o Kendô e um esporte. O fato de existirem campeonatos de Kendô no mundo todo também reforça essa ligação, além do reconhecimento do Kendô junto à SportAccord, antiga GAISF (Associação Global de Federações Esportivas Internacionais).
Ao mesmo tempo, o Kendô possui outros aspectos que ultrapassam as fronteiras do esporte e, portanto, ele é uma arte marcial tradicional japonesa que pode possuir um lado mais ou menos desportivo, dependendo de quem pratica e de quem instrui.
Para ilustrar, podemos citar duas características do Kendô que refletem essa questão:
1) O uso das palavras Keiko para significar “treino” e Dôjô para indicar “academia”.
A palavra “treino” em japonês costuma ser traduzida como renshû ou kunren. “Keiko” significa literalmente “Pensar o Passado”, indicando que é uma prática que vai além do desenvolvimento físico/técnico e de um viés competitivo. “Dôjô” significa literalmente “Local do Caminho” e indica uma ascendência da filosofia e da espiritualidade sobre a prática.
2) A existência do Kendô Kata.
O Kendô Kata é parte fundamental e indissociável do Kendô, tratando-se de um conjunto de técnicas pré-determinadas, que consiste de 7 técnicas com espadas longas e 3 com as curtas. Apesar de existirem disputas competitivas de Kendô Kata, a própria natureza e a forma como o conjunto foi concebido são intrinsecamente marciais, a ponto de serem originalmente executadas com espadas de verdade.
Como surgiu o Kendô?
A espada faz parte da cultura, tradição e do imaginário japonês desde tempos imemoriais. Diversas expressões idiomáticas da língua japonesa usadas no dia-a-dia são originárias da espada e do seu uso. Entende-se que a Katana, a espada japonesa como conhecemos hoje, ganhou os seus contornos atuais aproximadamente mil anos atrás e, portanto, as técnicas de manejo também acompanharam essa evolução.
A estruturação formal das técnicas em estilos e escolas aconteceu bem mais tarde, aproximadamente 500 anos atrás. E, mais ou menos 300 anos atrás, começaram a se desenvolver as práticas que existem hoje no Kendô.
Após a Restauração Meiji, em 1868/1869, começou-se um movimento de ter uma entidade central que governasse a prática no Japão. Isso levou à fundação da Dai Nippon Butokukai (“Grande Associação Japonesa das Virtudes Marciais”) em 1895.
Por conta da Segunda Guerra Mundial, essa organização foi dissolvida e, em seu lugar, foi fundada a Federação Japonesa de Kendô (AJKF – All Japan Kendo Federation) em 1952, como órgão regente do Kendô. E em 1970, foi fundada a Federação Internacional de Kendô, para reunir e difundir a prática do Kendô no mundo. Futuramente, pretende-se disponibilizar mais artigos sobre o assunto no site.
Como o Kendô veio parar no Brasil?
O Kendô veio juntamente com os primeiros imigrantes japoneses a bordo do navio Kasato Maru, em 1908. Existem registros sobre a prática a bordo do navio, sendo que o nome de maior destaque foi o de Haga Tokutarô sensei, instrutor de Kendô da província de Ehime.
A prática começou a ganhar um impulso maior no país a partir de 1922, com a chegada de Kobayashi Midori sensei e a fundação do primeiro Dôjô de Kendô no Brasil, em 1926.
Em 1933, por ocasião dos 25 anos da imigração japonesa no Brasil, foi fundada oficialmente a Hakkoku Jû-Kendô Renmei, a “Federação de Judô e Kendô do Brasil”. A partir desse momento, a prática do Kendô no país passou a ser regida por essa entidade e se desenvolveu até ser proibida em 1942, por conta da eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Durante a Guerra, o Kendô foi praticado de forma clandestina e, até o período imediatamente após a Guerra, ele se tornou uma das formas de resistência cultural dos japoneses.
Em 1950, foi realizado o primeiro campeonato brasileiro pós-Guerra de Judô e Kendô, organizado pela Zenpaku Seinen Renmei (Associação Brasileira Nova Juventude, dentre outras denominações), voltando a trazer o Kendô à luz de forma ampla no território brasileiro. E em 1951, a Nippaku Sangyô Shinkôkai (Bandeira Adhemar de Barros Nipo-Brasileira) organizou o seu primeiro campeonato brasileiro pós-Guerra de Judô e Kendô, de forma que o Brasil passou a ter dois campeonatos brasileiros em um mesmo ano, como reflexo das turbulências sociais da época.
A partir de 1954, ano do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo, começaram a se intensificar movimentações para a fundação de uma entidade única que regesse o Kendô no Brasil. Como resultado, em 1958 foi fundada a Zen Hakkoku Kendô Renmei (Federação de Kendô do Brasil), que se tornou a primeira entidade internacional a se filiar à Federação Japonesa de Kendô.
Isso abriu portas para a participação do Brasil em diversos eventos de importância, inclusive no primeiro Campeonato Mundial de Kendô, realizado em 1970. O Brasil é um dos únicos países a participar de todas as edições do Mundial e é membro fundador da Federação Internacional de Kendô.
Em 1981, visando ganhar maior respaldo do Kendô junto às autoridades brasileiras, foi fundada a Federação Paulista de Kendô (FPK) , que foi responsável pela organização do quinto Campeonato Mundial de Kendô, em 1982. Nessa época também foram enviados instrutores de Kendô da Universidade Kokushikan, do Japão, um dos grandes centros de prática da arte, permitindo que o nível dos praticantes brasileiros subisse ainda mais, obtendo o segundo lugar em equipes nesse Mundial.
Em 1998, foi fundada a Confederação Brasileira de Kendo (CBK), que se tornou a entidade a governar o Kendô de fato e de direito em solo brasileiro. A CBK também se tornou o principal pólo difusor da arte na América Latina, impulsionando a fundação da Confederação Sul-Americana de Kendô, que posteriormente se tornou a Confederação Latinoamericana de Kendô (CLAK).
Hoje, existem mais de mil praticantes de Kendô, espalhados nas cinco regiões do Brasil.
No canal do YouTube da Confederação Brasileira de Kendô (CBK), há uma live especial sobre o Kendô no Brasil antes da Segunda Guerra Mundial:
E, futuramente, pretende-se disponibilizar mais artigos sobre o assunto no site.
Como é um treino de Kendô?
Muito mais do que ler ou ver na internet, recomendamos que vá assistir a um treino para saber como é! Mas até lá poderá ver nosso vídeo explicativo e com movimentos demonstrativos:
A lista atualizada de onde treinar Kendô você pode encontrar no Menu do site.
O que são essas roupas, armaduras e varetas esquisitas que vejo no Kendô?
Isso é um dos aspectos que vem da parte cultural e tradicional que há no Kendô enquanto arte japonesa.
As roupas são derivadas das roupas tradicionais japonesas – a vestimenta superior, chamada de kendôgi ou keikogi, é uma adaptação do kimono japonês, e a calça, chamada de hakama, vem diretamente do hakama tradicional japonês, que é uma calça cuja barra é extremamente grande, a ponto de parecer um pouco com uma saia para quem não está acostumado.
Em 1933, por ocasião dos 25 anos da imigração japonesa no Brasil, foi fundada oficialmente a Hakkoku Jû-Kendô Renmei, a “Federação de Judô e Kendô do Brasil”. A partir desse momento, a prática do Kendô no país passou a ser regida por essa entidade e se desenvolveu até ser proibida em 1942, por conta da eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Da mesma forma, as “armaduras” são equipamentos de prática desenvolvidos mais ou menos 300 anos atrás, inspiradas nas armaduras utilizadas pelos samurai, os guerreiros japoneses. A “armadura”, chamada atualmente de bôgu ou kendôgu, consiste de quatro grandes peças: o Men, para cobrir a cabeça, a garganta e a parte superior dos ombros, o Kote, para cobrir as mãos e os antebraços, o Dô, para cobrir as partes frontal e lateral do torso, e o Tare, para cobrir a região abaixo da cintura. Ocasionalmente, pode-se utilizar também o Suneate, para proteger as pernas e tornozelos.
Para o treino utilizando a “armadura”, utiliza-se a shinai, que é o equipamento representando a katana, a espada japonesa. Ela consiste de quatro varetas de bambu reunidas de uma forma específica, de forma que os golpes possam acontecer sem causar lesões e os treinos sejam conduzidos com uma segurança adequada.
E para o treino de Kendo Kata, formas pré-estabelecidas, é comum utilizar o bokutô, a espada de madeira, sendo que alguns utilizam uma mogitô, réplica da espada japonesa feita com uma liga reforçada para aguentar impacto, ou até mesmo uma shinken, isto é, uma verdadeira espada japonesa, feita de aço forjado conforme técnicas tradicionais.
Por que tem tanta gritaria no Kendô?
A projeção da voz, chamada comumente de kiai ou kakegoe, é um dos fatores fundamentais dentro do Kendô, pois demonstra a energia que a pessoa tem para a luta e para o treino.
A forma como a voz é projetada guarda similaridades com a voz postada do canto lírico (ópera) e potencializa efeitos benéficos para a saúde da pessoa, tanto fisicamente ao trabalhar a parte cardiorrespiratória quanto mentalmente, ao estimular uma atitude mais determinada.
Assim sendo, não é apenas uma gritaria sem sentido; muito pelo contrário, são projeções de voz utilizadas de forma calculada, até mesmo como parte da tática dentro de uma luta.
Quantas técnicas tem o Kendô?
É fundamental não confundir técnica com região que pode ser golpeada.
No Kendô, há quatro grandes áreas que podem ser golpeadas:
- Men (o topo da cabeça);
- Kote (antebraço, geralmente o direito);
- Dô (torso, geralmente o lado direito); e
- a garganta, no caso do Tsuki (estocada).
Não faz muito sentido afirmar que “o topo da cabeça é uma técnica/golpe”. A mesma coisa vale para o antebraço e para o torso. Desta forma, não podem ser considerados nem como golpes nem como técnicas.
Atualmente, o Kendô possui 65 (sessenta e cinco) técnicas oficialmente reconhecidas, incluindo técnicas com duas espadas (Nitô), técnicas com uma mão (Katate) e golpes partindo de posturas diferentes como Jôdan (a espada acima da cabeça).
As técnicas podem ser agrupadas em 14 (quatorze) categorias pertencentes a 2 (dois) grandes conjuntos, na seguinte conformidade:
1) Técnicas de Ataque (Shikake-waza)
a. 4 (a rigor, 5) técnicas de Ippon-uchi (golpes únicos);
b. 12 técnicas de Renzoku-waza (sequências);
c. 7 técnicas de Harai-waza (varrida);
d. 2 técnicas de Maki-waza (rotação);
e. 2 técnicas de Debana-waza (surgimento);
f. 3 técnicas de Hiki-waza (recuo);
g. 2 técnicas de Katsugi-waza (carregamento);
h. 2 técnicas de Katate-waza (uma mão);
i. 2 técnicas de Jôdan-waza (partindo da postura de Jôdan, a espada acima da cabeça); e
j. Técnicas de Nitô (duas espadas).
2) Técnicas de Contra-ataque (Ôji-waza)
a. 8 técnicas de Nuki-waza (escape);
b. 9 técnicas de Suriage-waza (deflexão ascendente);
c. 8 técnicas de Kaeshi-waza (inversão);e
d. 4 técnicas de Uchiotoshi-waza (derrubada).
Qual o conteúdo de um treino de Kendô?
A estrutura de um treino de Kendô varia muito de lugar para lugar e ainda de treino para treino.
Existem alguns módulos de treinamento que costumam surgir com maior frequência, tais como:
- Kihon, que é o treino de fundamentos;
- Waza, que é o treino de técnicas;
- Kata, que é o treino das técnicas pré-definidas; e
- Jigeiko (Keiko), que é o treino livre, um pouco mais próximo à luta.
Também podem existir treinos especiais de inverno, chamados de kangeiko, e treinos especiais de verão, chamados de shochûgeiko, além de treinos em regime de concentração, conhecidos como gasshuku.
Novamente, cada treino pode ser diferente e recomendamos que vá assistir a um treino para ver na prática como é!
Como funcionam as graduações no Kendô? Tem “faixa”, “cordão” ou equivalente?
No Kendô, existe a graduação (Kyûi e Dan’i) e a titulação (Shôgô).
A graduação mede o desenvolvimento e a maturação em termos técnicos (físicos e mentais) e vai desde o 1º kyû (a primeira graduação) até o 8º dan (a graduação mais elevada atualmente).
A titulação reconhece o grau de impacto positivo que a pessoa tem para o Kendô. Atualmente, existem três títulos: Renshi, Kyôshi e Hanshi.
Mas, tirando alguns casos muito específicos, não há nenhuma marca ou item que identifique a graduação da pessoa. Assim, é perfeitamente normal ter mestres de mais alta graduação treinando lado a lado junto com iniciantes.
Como funciona uma luta de Kendô?
A luta que Kendô é uma busca incessante pela excelência e perfeição do golpe. Por isso que só tem Ippon, ou seja, apenas golpes perfeitos são considerados válidos, dentro, claro, do nível das pessoas que estão lutando.
É comum uma luta ter a duração máxima de 5 (cinco) minutos e ser disputada em melhor de três, ou seja, quem tirar dois Ippon primeiro vence.
A avaliação costuma ser feita por três árbitros por luta, de forma que não haja empate no caso de ter golpes simultâneos ou quase simultâneos. A bandeira, de cores vermelha ou branca, que o árbitro levanta indica quem foi a pessoa que aplicou um Ippon.
No início, é normal a pessoa se focar apenas no golpe propriamente dito. Mas, à medida em que se aumenta a compreensão acerca do Kendô, fica cada vez mais claro que a forma como o golpe é planejado e construído é muito mais fascinante do que a execução do movimento em si, tendo uma certa similaridade com o xadrez nesse sentido.
Por que muitas vezes vejo as pessoas golpearem mas que ninguém dá ponto?
Porque o Kendô não se trata simplesmente de golpear e acertar o alvo. Isso qualquer pessoa consegue fazer, sem necessidade de praticar nenhuma arte marcial.
O Kendô coloca muita ênfase não só no golpe em si, mas principalmente na forma como o golpe é construído e executado. E, naturalmente, isso afeta diretamente a avaliação dos árbitros com relação ao golpe.
Por sua vez, o golpe válido, chamado de yûkô-datotsu, tem diversos elementos que precisam estar presentes. A grosso modo, existe a exigência pela sincronia entre a energia (intenção), espada e corpo, chamada de ki-ken-tai-icchi. Isso pode ser expandido da seguinte forma:
1) Princípios corretos (Riai)
a. Elementos relevantes (yôso)
i. Distância (maai)
ii. Momento/Oportunidade (kikai)
iii. Movimentação corporal (tai-sabaki)
iv. Efetividade do uso da mão (te-no-uchi no sayô)
v. Potência e acuidade do impacto (tsuyosa to sae)
b. Condições relevantes (yôken)
i. Postura física (shisei)
ii. Postura energética/mental (kisei (hassei))
iii. Região golpeada (datotsu-bui)
iv. Região da espada com a qual se golpeia (shinai no datotsu-bu)
v. Alinhamento da lâmina com o ângulo de corte (hasuji)
2) Espírito de alerta e prontidão (Zanshin)
a. Postura da energia/intenção (kigamae)
b. Postura corporal (migamae)